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Como a neurociência explica as birras?

03/03/2021

As birras fazem parte do desenvolvimento da criança e são uma maneira de a criança “dizer algo” que ainda não sabe como, porque não tem maturidade cerebral para lidar e expressar de outra maneira suas emoções, como, por ex., raiva, medo, cansaço, fome, sono, entre outras.

Especialmente até os 4 anos, a criança usa mais seu cérebro primitivo, reagindo emocionalmente a situações estressantes com repostas mais instintivas, imediatas, de sobrevivência. À medida que os anos vão passando, a região mais anterior do córtex pré-frontal vai amadurecendo, conferindo maior capacidade de pensamento crítico, reflexivo, de planejamento e solução de problemas; e é somente por volta dos 25 anos que a parte mais racional desta região estará completamente amadurecida. Somado a isso, na primeira infância, as crianças nem sempre apresentam repertório verbal necessário para expressar suas emoções ou conseguem nomear seus sentimentos. Lidar com frustrações e contornar problemas é, assim, mais difícil, e a forma de se expressar passa a ser através de birras.

Precisamos, porém, estarmos atentos a episódios de birras excessivas que podem estar associadas a transtornos do neurodesenvolvimento.(GOUVEIA, 2009).

Diante de uma birra, precisamos ajudar a criança em vez de simplesmente repreendê-la. Nem sempre é fácil. Os esforços devem ser no sentido de ajudar a criança a se acalmar, lembrando que ela não costuma conseguir fazer isso sozinha. O ideal é levar a criança para um espaço onde ela possa se expressar e se acalmar. Se possível, redirecione a atenção para outra coisa. Olhe nos olhos, não aja com agressividade, nem diga nada negativo. Se possível, negocie. Se souber que algo pode desencadear birra, antecipe, explique de maneira que ela possa compreender.

Seja sensível, lembre-se que a criança não tem habilidades de autorregulação emocional, e, portanto, depende das suas. Quando temos essa consciência, conseguimos olhar com mais sensibilidade para nossas crianças e nos desligarmos um pouco mais dos “olhares alheios”, com tranquilidade e maior entendimento.

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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