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Estudo aponta que atraso motor, além de ser “bandeira vermelha” inicial para Transtorno do Espectro Autista (TEA), é mais comum em meninas do que em meninos com autismo

01/03/2023

Embora não façam parte dos critérios diagnósticos para o Transtorno do Espectro Autista (TEA), atrasos e prejuízos motores são observados em cerca de 83% dos casos. São, nesse sentido, um importante sinal de alerta.

📑O estudo de Gabis et al. (2020) apontou que, além de ser um importante sinal de alerta precoce, o atraso motor é mais comum em meninas do que em meninos com TEA, com risco adicional para aquelas que nasceram prematuras, o que traz importantes contribuições para o cenário do diagnóstico do TEA especialmente entre o público feminino, que costuma ser maior desafiador.

👧🏼Dessa forma, diante de uma criança do sexo feminino com leve atraso na habilidade motora, uma avaliação completa de todas as outras áreas de desenvolvimento deve ser realizada.
Maior conscientização e avaliação mais completa para TEA também devem ser enfatizadas no acompanhamento de prematuros submetidos à triagem de desenvolvimento, particularmente naqueles que apresentam atraso motor.
.
.🚨 Fiquem atentos ao desenvolvimento motor especialmente em meninas, público no qual o diagnóstico de TEA nível 1 de suporte costuma ser negligenciado.

O estudo

No estudo de Gabis et al. (2020), foram analisados os marcos do desenvolvimento de 467 crianças com TEA (diagnosticadas com idade média de 3,4 anos) de acordo com gênero e risco de prematuridade.

Resultados

Observou-se que a aquisição de marcos motores na maioria das crianças com TEA ocorre grosseiramente dentro da faixa normal. No entanto, houve uma mudança para a aquisição da marcha estando no final do intervalo normal, sendo essa mudança mais proeminente nas meninas. Os resultados apontaram 60% das meninas e 47% dos meninos com atraso motor, e 49% das meninas e 36% dos meninos com atraso global no desenvolvimento.

No subgrupo dos 20% que nasceram prematuramente, os atrasos no desenvolvimento motor e global foram ainda mais significativos e mais comuns em meninas.

Os resultados do estudo demonstram que atrasos nas habilidades motoras grossas e finas podem acompanhar déficits de linguagem, comunicação e habilidades sociais em crianças com TEA, e que essa apresentação é particularmente comum em meninas com TEA.

Repercussões

Conclui-se, assim, que o atraso na marcha deve ser um sinal preocupante, especialmente em meninas nascidas prematuras, e deve levar a uma avaliação ampliada para sinais e sintomas relacionados ao autismo.

O estudo se mostra como uma contribuição especialmente importante considerando-se que o diagnóstico do TEA em meninas é sabidamente mais desafiador. Isso porque, o cérebro feminino é naturalmente mais sociável, flexível, com maior capacidade de imitação, empatia e para habilidades sociais esperadas nos relacionamentos interpessoais, o que faz com que alguns sinais mais sutis fiquem mais mascarados entre meninas, adolescentes e mulheres, atrasando muitas vezes o diagnóstico e/ou levando a subdiagnósticos.

Nesse sentido, um olhar mais atento a questões motoras configura-se como medida importante para que possamos alcançar diagnósticos cada vez mais precoces entre o público feminino.

Fonte: Gabis, L. V., Attia, O. L., Roth-Hanania, R., & Foss-Feig, J. (2020). Motor delay-An early and more common” red flag” in girls rather than boys with autism spectrum disorder. Research in developmental disabilities, 104, 103702.

Com amor,
@dradeborahkerches
@dracarolinaquedas
@cibele_calza
@tehabilitar.multiprofissional

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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