No Transtorno do Espectro Autista (TEA), frequentemente há dificuldades em lidar com frustrações devido a particularidades da condição, como inflexibilidade cognitiva, interesses restritos, dificuldades em regular os próprios sentimentos, déficits na linguagem receptiva e expressiva.
A criança/o adolescente pode se sentir frustrada/o quando tenta ganhar atenção, fugir ou se esquivar de demandas, ter acesso a reforçador; quando tem dificuldade de se autorregular em sobrecargas sensoriais etc. Dessa forma, comportamentos disruptivos podem emergir, já que existem déficits na comunicação de estados emocionais, necessidades, na autorregulação, entre outros.
Comportamentos disruptivos que estão sob controle de frustração podem ser descritos como respostas indesejadas emitidas como gritos, choros, se jogar no chão; arremessar/quebrar objetos; auto/heteroagressividade; comportamentos autolesivos (bater a cabeça, se morder) etc.
Devemos lembrar que comportamento é algo que se aprende e, dessa forma, pode ser modificado! Se tais comportamentos são emitidos e reforçados (a criança consegue o que quer e/ou ganha atenção), há grande probabilidade de haver repetição em situações semelhantes. Isso porque, se há reforço contingente a um comportamento, nosso cérebro “seleciona” tal comportamento como “útil”.
Levando em conta as particularidades do TEA e características de cada criança/adolescente, deverão ser pensadas estratégias no sentido de regular essas respostas às frustrações. O primeiro passo será sempre analisar todo o contexto que envolve: situações de frustração, comportamento e acesso a reforço, para, então, sabermos como não reforçar. A equipe multiprofissional que já acompanha a criança certamente poderá ajudar nessa análise e com orientações específicas.
Não existe uma “fórmula pronta”, mas, algumas dicas são:
– Antecipar, dar previsibilidade sobre possíveis situações nas quais a criança possa emitir esses comportamentos é importante. Assim como tentar o diálogo, explicar quantas vezes forem necessárias (utilizar-se de gestos, pistas visuais, linguagem adequada) e cumprir combinados;
-Nem sempre conseguiremos antecipar. E a orientação, em geral, é não reforçar o comportamento, ou seja, não ceder, mas, ao mesmo tempo, não entrar em conflito;
– No caso de disruptivos que se sabe que seguramente são mantidos por atenção, a estratégia pode ser não dar atenção a tais respostas e, ao cessar, direcionar para comportamentos mais adaptativos. Se riscos, proteger a criança ou conter, sem reforçar;
– No caso de comportamentos (por exemplo, o choro) com o objetivo de pedir algo, não reforçar – o que não é o mesmo do que “ignorar a criança”, mas, sim, ensinar a forma correta de se pedir aquilo que ela deseja, seja apontando, seja dando dica verbal para que ela verbalize;
– Manter a demanda quando o comportamento acontecer por esquiva ou fuga da demanda;
– Usar de elogio social diante de comportamentos apropriados, como “Parabéns”, “Ótimo”, “Excelente”, “Isso mesmo”, sempre de forma entusiasmada.
A frustração é importante para o desenvolvimento de qualquer criança, que, aprenderá, aos poucos, a lidar com situações controversas, a ser tolerante e resiliente (capacidade de adaptar-se a mudanças, superar desafios).