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Lobo temporal e cérebro feminino: impactos no TEA

12/03/2023

Já se reconhece que o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em meninas/mulheres, especialmente no caso daquelas que se encontram no espectro nível 1 de suporte, é mais desafiador, por diferentes motivos.

Um dos grandes fatores que contribuem para isso diz respeito a diferenças (mesmo que sutis) no funcionamento cerebral feminino, sendo que, em relação ao TEA, destaca-se a maior densidade de neurônios em áreas relacionadas à linguagem (que contempla característica central no TEA), associada à maior habilidade para imitação, habilidades sociais, comunicativas e empatia (SKUSE, 2009).

Estudos relatam que o cérebro feminino conta com uma densidade maior de neurônios no lobo temporal, área que está diretamente relacionada a questões perceptivas, cognitivas e emocionais – que estão comprometidas no TEA.

No lobo temporal, a área facial fusiforme é responsável pelo reconhecimento e distinção de expressões faciais, essenciais para compreender estados mentais e predizer o comportamento dos outros, bem como para a empatia.

O giro temporal superior, por vez, está relacionado com o processamento de informações auditivas e interpretação da fala. Já o giro temporal inferior, está relacionado a determinadas características da fala, como o controle da entonação, intensidade e melodia (por exemplo, pelo tom e entonação da voz, compreendemos o estado mental do outro).

Ainda no lobo temporal, encontramos uma estrutura chamada hipocampo, relacionado ao controle e gerenciamento da memória. Cada acontecimento que vivemos, sentimos e experimentamos é filtrado pelo hipocampo, que junto com o hipotálamo permite que possamos nos lembrar não somente das experiências, mas também daquilo que sentimos em relação a elas.

Dessa forma, uma maior densidade de neurônios e um melhor funcionamento nessa área do cérebro com TEA feminino representam prejuízos perceptivos, emocionais e cognitivos mais sutis.

Em outras palavras, resultam num cérebro naturalmente mais social, mais flexível, com maior capacidade de imitação, empatia e para habilidades sociais esperadas nos relacionamentos interpessoais.

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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