Blog

Poda neural na adolescência e TEA

23/05/2023

A poda neural (ou neuronal) é um processo fisiológico geneticamente programado, em que o cérebro, resumidamente, faz uma “limpeza”, “descartando” neurônios e conexões que não estão sendo utilizados, ao mesmo tempo em que fortalece conexões mais utilizadas por ele.

Após a poda neural da infância, que se dá aproximadamente entre 1 e 3 anos de vida, ocorre novamente um aumento das conexões cerebrais de acordo com as experiências vividas.

O cérebro inicia então, por volta dos 11 anos para meninas e 12 anos e meio para os meninos, uma nova poda neural, mais intensa, que segue até aproximadamente os 15 anos.

Assim como na infância, a poda neural da adolescência faz um refinamento das sinapses para que o cérebro se especialize ainda mais e, no caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em especial, pode haver falhas nesse processo, acarretando um excesso de conexões, que tende a hiperexcitar ainda mais esse cérebro e o desorganizar inclusive em aspectos sensoriais, impactando em comportamentos mais inapropriados, maiores dificuldades em relação à compreensão, socialização, flexibilidade e especialização de aprendizados.

Porém, essa poda neural não está envolvida no desencadeamento de comportamentos do espectro autista em adolescentes com desenvolvimento típico, tampouco com perdas de habilidades adquiridas por adolescentes com TEA.

Relaciona-se mais a questões como impulsividade, agitação, dificuldade em relação ao autogerenciamento, maior rigidez comportamental e engajamento em comportamentos interferentes/disruptivos.

A poda neural da adolescência costuma preocupar pais/responsáveis ainda quanto à possibilidade de esquizofrenia. Isso porque adolescentes no espectro do autismo apresentam um risco maior de desenvolver esquizofrenia, em especial quando há predisposição genética. Isso porque conexões cerebrais interrompidas ou em excesso devido a uma poda ineficiente têm sido também relacionadas à esquizofrenia.

Levando em conta todas as transformações que a adolescência impõe e o aumento das demandas sociais que se dá nessa fase, é possível mensurar o quanto impactante pode ser essa poda neuronal para os que estão no espectro autista.

Experiências e intervenções especializadas, repetitivas, intensivas e motivadoras são capazes de modelar as conexões cerebrais, promover a integração do cérebro, possibilitando maior organização em todas as áreas e afetando positivamente o desenvolvimento cerebral.

É essencial que as pessoas do convívio acreditem no potencial desses adolescentes, e que possam ser trabalhadas constantemente estratégias para que eles atinjam o máximo de ganhos e conquistem cada vez mais independência e qualidade de vida.

@dradeborahkerches @guigreis

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Últimas publicações

Cuidado com promessas milagrosas

Cuidado com promessas milagrosas

Esta semana recebi vários questionamentos a respeito do MMS (Miracle Mineral Solution) e achei importante compartilhar com vocês algumas considerações. Talvez vocês estejam acompanhando algo sobre a polêmica em torno do uso deste produto que “promete” ser a “cura do...

ler mais
Epilepsia e Autismo

Epilepsia e Autismo

Hoje, no Purple Day, eu não poderia deixar de falar também sobre epilepsia no autismo, visto que até 1/3 das pessoas com TEA também apresentam epilepsia. O maior número de casos fica entre as crianças menores de 5 anos e os adolescentes. Embora essa ligação entre TEA...

ler mais
TDAH – Orientações aos pais

TDAH – Orientações aos pais

- Procurem o máximo possível de informações sobre o TDAH e possíveis comorbidades, antes de iniciar o tratamento. - Tenham tempo para seus filhos!!! - Elogiem sempre!!! A criança precisa saber que seus esforços em vencer desafios estão sendo reconhecidos. - Lembrem-se...

ler mais
TDAH é comum na infância?

TDAH é comum na infância?

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é o transtorno comportamental, neurobiológico mais comum na infância e adolescência, afetando em torno de 5-8% delas. Inicia-se na infância e pode persistir até a fase adulta, em mais da metade dos casos. Os...

ler mais
Cefaleia na infância e adolescência

Cefaleia na infância e adolescência

A cefaléia (dor de cabeça) é uma das queixas mais comuns da infância e adolescência. Elas deixam de brincar, querem ficar em um quarto escuro, deitadas, parecem indispostas, cansadas e podem apresentar náuseas e vômitos. O impacto das cefaleias crônicas, como a...

ler mais