Esse é um tema um tanto delicado, mas muito necessário.
Num relacionamento abusivo existem abusos de caráter físico e/ou emocional, onde essencialmente um indivíduo usa de manipulação para controlar o outro.
Tais abusos podem se apresentar como:
– Agressões físicas ou verbais;
– Ciúme excessivo;
– Tentativa de controle sobre roupas, trabalho, amizades, redes sociais etc.;
– Ofensas e desqualificações, reforçando sentimentos de baixa autoestima, insegurança, culpa.
Alguns fatores que tornam as mulheres com TEA mais suscetíveis a relacionamentos abusivos e dificultam o reconhecimento desse tipo de relação são:
– Sentimento de inadequação, baixa autoestima e necessidade de aceitação
Especialmente a partir da adolescência e juventude, a menina/mulher passa a se perceber “diferente” e pode se sentir “inadequada”, desejando, de toda forma, ser aceita.
Pode se sentir mais excluída, afastada de grupos sociais. E isso pode ser um gatilho para transformar o(a) parceiro(a) em herói, pois ela entende que está sendo amada com todas suas inadequações e se sente grata por isso.
O(a) parceiro(a) passa então a ser sua maior (e talvez única) companhia, sua maior referência de confiança, e tudo que o outro passa a pedir, sugerir, ela tende a acatar.
– Desejo de pertencer e ter alguém para as interações sociais
Ter um(a) parceiro(a) traz a ideia de maior proximidade com a “normalidade” imposta socialmente, tende a fazer com que essa mulher e seus desafios sejam “menos notados”.
E isso leva, muitas vezes, a um relacionamento que ocupa praticamente todo o espaço na vida dessa mulher, afastando-a ainda mais de outras pessoas, grupos e contextos.
– Maior ingenuidade
A pessoa autista, em geral, acredita sobretudo na sinceridade dos outros, não compreende bem os motivos que podem levar uma pessoa a não ser verdadeira. Então tudo que o(a) parceiro(a) fizer, disser, sugerir, tende a ser bem aceito.
– Maior tendência à “Síndrome da Boazinha”
Essa é uma condição caracterizada pela compulsão em agradar e que também pode estar presente entre mulheres com TEA.
Ela evita a todo custo o conflito, não consegue dizer não ou impor limites, o que a torna passiva em suas relações.
– Idealização acerca do amor e relações
A maior ingenuidade, uma baixa autoestima, a literalidade, as dificuldades em contextualizar, em “decifrar” os desejos e expectativas do outro, entre outros pontos, podem contribuir para uma ideia romantizada acerca do amor, dos relacionamentos amorosos.
Isso faz com que, muitas vezes, tudo que seja dito seja integralmente aceito e colocado como ideal, que o(a) parceiro(a) seja visto com perfeição, entre outras possibilidades.
– Déficits na comunicação não-verbal
Dificuldades em compreender as expectativas, os desejos e sentimentos do outro, bem como as informações que as pessoas e o ambiente fornecem, podem dificultar que essa mulher com TEA perceba que “há algo de errado” em seu relacionamento.
Pode haver ainda dificuldades em compreender e expressar os próprios sentimentos em relação ao outro.
Vale reforçar que essas são apenas algumas possibilidades e que cada indivíduo com TEA apresenta características e experiências de vida únicas.
Porém, reconhecer que as características inerentes à própria condição podem impactar essa suscetibilidade a relacionamentos abusivos permite um olhar mais atento e integral a essas meninas e mulheres com TEA, focado também na maneira como se relacionam e enxergam seus relacionamentos amorosos.
Um bom acompanhamento nesse sentido compreende trabalhar o fortalecimento da autoestima em diferentes contextos e apresentar sempre de forma clara e compreensível quais são os aspectos que permeiam relacionamentos interpessoais saudáveis.