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Puberdade em meninos no Transtorno do Espectro Autista (TEA)

26/09/2020

A puberdade é o processo que leva à maturidade sexual e capacidade de reprodução. Em meninos, começa entre 10 e 14 anos e dura por volta de 3 anos.

Compreender e lidar com as transformações desta fase, não é tarefa fácil e pode ser ainda mais desafiador para os meninos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As diferenças estão relacionadas à compreensão de todas essas transformações e à adequação dos comportamentos atrelados a tais mudanças.

Esta é uma fase em que os meninos estarão lidando com mudanças e descobertas prazerosas em seus corpos, além de um turbilhão de novos sentimentos. Fisicamente, o aumento na produção de andrógenos, principalmente testosterona, estimula o crescimento dos genitais e pelos do corpo. O aumento dos níveis de testosterona em meninos pode favorecer, também, aumento da agressividade e impulsividade, principalmente naqueles com maior rigidez cognitiva e dificuldade de controle inibitório. Soma-se a esta fase o aumento de demandas marcadas por aspectos sociais, emocionais e de relacionamentos (de amizade e amorosos) e a “necessidade” de se adequar socialmente, o que, particularmente em meninos com TEA, pode ser exaustivo, por mais que já possuam estratégias de habilidades sociais aprendidas.

As orientações para esta fase devem preferencialmente começar antes do seu início, serem claras, objetivas, adequadas ao nível de compreensão de cada um; e os cuidados em relação a higiene pessoal e comportamentos sexuais, reforçados. Libido, ereção, masturbação, sexo, são naturais, porém deve-se deixar claro o que é ou não permitido em público e privado. Neste contexto, aqueles que apresentam deficiência intelectual associada e/ou maiores dificuldades relacionadas à linguagem receptiva e expressiva, necessitam ainda mais de apoio.

Precisamos estar atentos, pois muitos meninos com TEA, na puberdade, são ainda imaturos e até inocentes, ficando expostos a situações de maior vulnerabilidade.

Intervenções especializadas, atividades físicas, assim como uma comunicação efetiva (verbal ou através de comunicação alternativa) e apoio dos pais/cuidadores e da escola, são fundamentais para que ele se sinta mais seguro, saiba que tem com quem contar e possa se sentir à vontade para tirar suas dúvidas. É importante lembrar que, nesta fase, idealmente o jovem deve estar sob o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar que utilizará de estratégias para ajudá-lo a lidar com esta etapa de grandes transformações da melhor maneira possível.

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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