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Trocas de turno comunicativas no Transtorno do Espectro Autista

20/11/2020

As trocas de turno comunicativas consistem em atos comunicativos com trocas interativas, relacionais. Envolve pedir o que deseja para um parceiro social e após, aguardar a resposta e/ou a solicitação deste parceiro, favorecendo uma interação.

Comunicação social é troca. Os atos comunicativos podem ser verbais, vocais, gestuais, por instrumentos de comunicação alternativas.

Trocas de turno comunicativas e Transtorno do Espectro Autista

No Transtorno do Espectro Autista, déficits na linguagem receptiva e expressiva, no comportamento de ouvinte, na intenção e iniciativa comunicativa, na reciprocidade socioemocional, na Teoria da mente, no interesse entre os pares, impactam negativamente neste mecanismo de troca, de dar e receber, de comunicação interativa.

Dessa forma, para “não precisar pedir e compartilhar”, pessoas com TEA costumam se comportar de maneira mais independente ou usar os cuidadores como “ferramenta”, sem interação.

A independência está relacionada ao fazer sem a ajuda do outro, habilidade importante a ser conquistada por todos, porém, no TEA, pode se desenvolver até mais precocemente, consequente às dificuldades de comunicação. Tendo maior independência, a criança, por exemplo, percebe que pode ter tudo o que quer no seu tempo, ao seu modo, sem precisar se comunicar.

Por tudo isso, a troca comunicativa deve sempre ser trabalhada em crianças, adolescentes, adultos com TEA, sendo estes verbais ou não, para que eles aprendam a pedir, tenham iniciativa, se interessem e tenham prazer com esta interação.

Nas crianças, podemos favorecer as trocas de turno comunicativas através de ações simples como criar algumas barreiras à independência da criança para que ela precise se comunicar; repetir o que a criança quer; pedir para ela apontar o que quer (dar o modelo s/n) e após, entregar imediatamente; ofertar brincadeiras que a motivem e que dependam de um parceiro, entre outras.

E… valorizar sempre qualquer forma de comunicação para que a criança se sinta feliz, engajada, motivada e interessada a fazer uma troca comunicativa.

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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