Blog

Atenção compartilhada

18/11/2020

A atenção compartilhada (AC) é a habilidade de coordenar a atenção entre dois parceiros comunicativos sociais em relação a um terceiro referencial externo, como um objeto, atividade (Tomasello, 2003), engajando, assim, em uma mesma atividade com o outro, possibilitando o compartilhamento de experiências.

O desenvolvimento da AC começa desde o nascimento, com as primeiras interações sociais. Por volta de 9 meses o bebê já começa a fazer AC. Com 11 meses, 80% dos bebês são capazes de fazer AC e, por volta de 14 meses, 100% dos bebês devem fazer AC.

Por que a atenção compartilhada é tão importante?

A atenção compartilhada é um dos pré-requisitos para o desenvolvimento da linguagem, habilidades sociais e emocionais; favorece aprendizados por imitação e o desenvolvimento de funções executivas como planejamento e monitoramento de ações.

Está ainda relacionada com o entendimento acerca de comportamentos inapropriados e/ou de riscos, quando a criança, por exemplo, toma a iniciativa de fazer algo, mas logo olha para os pais/cuidadores para ver a reação deles em relação a isso, entre muitos outros aspectos.

Atenção compartilhada e sua importância no TEA

Déficit nesta habilidade costuma ser um preditor importante para o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A AC compreende componentes de resposta (compreensão da intenção do outro) e iniciativa (intenção comunicativa).

Dada a importância dessa habilidade para os mais diversos aspectos do desenvolvimento, programas de ensino para atenção compartilhada devem ser prioridade no tratamento de crianças com TEA.

O momento de brincar, de ler histórias e até mesmo os momentos de tarefas diárias (como cozinhar ou limpar a casa) podem ser ótimas oportunidades para treinos de atenção compartilhada e interações significativas. Pode-se estimular a AC na criança interessando-se ativamente por aquilo que ela já está interessada. Brincadeiras que envolvam troca de turno (minha vez, sua vez), em especial, são ferramentas importantes para esse aprendizado. E é essencial que todas as atividades sejam pautadas na motivação, para que, de fato, ela responda e inicie com prazer esta habilidade.

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Últimas publicações

Como preparar uma criança autista para a volta às aulas?

Como preparar uma criança autista para a volta às aulas?

Como preparar uma criança autista para o início ou volta às aulas? A preparação para o início ou volta às aulas pode ser mais desafiadora entre crianças autistas, levando em conta que essas têm uma necessidade maior de rotina e previsibilidade, e que podem ser...

ler mais
Relacionamentos amorosos no TEA

Relacionamentos amorosos no TEA

Os relacionamentos amorosos, para toda e qualquer pessoa, envolvem desafios. Costumam carregar dúvidas e medos, em suas diferentes “etapas”, que vão desde o momento de conhecer alguém até desenvolver intimidade emocional e física para se construir um relacionamento...

ler mais
O que são as janelas de oportunidades?

O que são as janelas de oportunidades?

Os anos iniciais do desenvolvimento, desde a fase intrauterina, estabelecem a arquitetura básica, o funcionamento e a conectividade cerebral, o que impactará no aprendizado de habilidades nas mais diversas áreas ao longo da vida, na cognição, saúde física e qualidade...

ler mais
Funções executivas e Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Funções executivas e Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Quando nascemos, nosso cérebro não “está pronto”. Através da exposição às inúmeras experiências vamos construindo novas conexões e modificando a estrutura e funcionamento do nosso cérebro, ganhando novos repertórios e habilidades ao longo da vida. No centro dessa...

ler mais
Autismo Regressivo

Autismo Regressivo

O termo Autismo Regressivo refere-se a casos de crianças que apresentavam desenvolvimento motor, da linguagem, cognitivo, social e emocional aparentemente típicos ou muito próximo ao desenvolvimento típico, mas, por volta de 15 a 36 meses, começaram a perder...

ler mais
Poda neural na adolescência e TEA

Poda neural na adolescência e TEA

A poda neural (ou neuronal) é um processo fisiológico geneticamente programado, em que o cérebro, resumidamente, faz uma “limpeza”, “descartando” neurônios e conexões que não estão sendo utilizados, ao mesmo tempo em que fortalece conexões mais utilizadas por ele....

ler mais
Poda neuronal da infância e TEA

Poda neuronal da infância e TEA

Poda neural (ou neuronal) é um tema que constantemente está em pauta nas discussões acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Importante ressaltar que trata-se de um processo fisiológico que ocorre em todos os indivíduos, porém, que tem suas particularidades no...

ler mais