A poda neural (ou neuronal) é um processo fisiológico geneticamente programado, em que o cérebro, resumidamente, faz uma “limpeza”, “descartando” neurônios e conexões que não estão sendo utilizados, ao mesmo tempo em que fortalece conexões mais utilizadas por ele.
Após a poda neural da infância, que se dá aproximadamente entre 1 e 3 anos de vida, ocorre novamente um aumento das conexões cerebrais de acordo com as experiências vividas.
O cérebro inicia então, por volta dos 11 anos para meninas e 12 anos e meio para os meninos, uma nova poda neural, mais intensa, que segue até aproximadamente os 15 anos.
Assim como na infância, a poda neural da adolescência faz um refinamento das sinapses para que o cérebro se especialize ainda mais e, no caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em especial, pode haver falhas nesse processo, acarretando um excesso de conexões, que tende a hiperexcitar ainda mais esse cérebro e o desorganizar inclusive em aspectos sensoriais, impactando em comportamentos mais inapropriados, maiores dificuldades em relação à compreensão, socialização, flexibilidade e especialização de aprendizados.
Porém, essa poda neural não está envolvida no desencadeamento de comportamentos do espectro autista em adolescentes com desenvolvimento típico, tampouco com perdas de habilidades adquiridas por adolescentes com TEA.
Relaciona-se mais a questões como impulsividade, agitação, dificuldade em relação ao autogerenciamento, maior rigidez comportamental e engajamento em comportamentos interferentes/disruptivos.
A poda neural da adolescência costuma preocupar pais/responsáveis ainda quanto à possibilidade de esquizofrenia. Isso porque adolescentes no espectro do autismo apresentam um risco maior de desenvolver esquizofrenia, em especial quando há predisposição genética. Isso porque conexões cerebrais interrompidas ou em excesso devido a uma poda ineficiente têm sido também relacionadas à esquizofrenia.
Levando em conta todas as transformações que a adolescência impõe e o aumento das demandas sociais que se dá nessa fase, é possível mensurar o quanto impactante pode ser essa poda neuronal para os que estão no espectro autista.
Experiências e intervenções especializadas, repetitivas, intensivas e motivadoras são capazes de modelar as conexões cerebrais, promover a integração do cérebro, possibilitando maior organização em todas as áreas e afetando positivamente o desenvolvimento cerebral.
É essencial que as pessoas do convívio acreditem no potencial desses adolescentes, e que possam ser trabalhadas constantemente estratégias para que eles atinjam o máximo de ganhos e conquistem cada vez mais independência e qualidade de vida.