Burnout é caracterizado por um estado de esgotamento caracterizado pela exaustão física e/ou mental de longo prazo relacionada ao trabalho.
Embora Burnout seja, por definição, um termo referente ao cansaço extremo relacionado ao trabalho, tem sido muito utilizado no Transtorno do Espectro Autista (TEA) em situações que impactem nesse estresse por excessos e esforços inerentes à rotina e desafios enfrentados pelos indivíduos nessa condição.
Como exemplo temos os esforços muitas vezes despendidos para interações e situações sociais, sobrecarga de estímulos, carga horária excessiva de demandas, entre outros.
Isso porque, algumas particularidades da condição predispõem a um risco aumentado de Burnout, não só em ambientes de trabalho, mas nos mais diversos contextos sociais.
A dificuldade em interagir socialmente está entre as principais características do espectro.
Nesse sentido, o esforço que a pessoa com TEA desempenha para uma interação pode ser de 2 a 3 vezes maior do que o esforço que uma pessoa neurotípica costuma gastar.
Por isso, pode ocorrer exaustão após situações em que ela esteve em companhia de outras pessoas por um período de tempo prolongado, precisando utilizar-se de diversas habilidades para corresponder socialmente.
Não por acaso, já se reconhece que o uso constante de camuflagem social, uma realidade principalmente para as meninas/mulheres autistas, impacta frequentemente em sofrimento psíquico e associa-se, entre outras comorbidades, a quadros de Burnout.
A exaustão no espectro autista é ainda, muitas vezes, proveniente do excesso de estímulos sensoriais que o cérebro recebe e não consegue filtrar.
Isso porque, muitas pessoas com TEA apresentam hipersensibilidade, por exemplo, a estímulos auditivos e/ou visuais. E diariamente o cérebro humano recebe inúmeros estímulos, inclusive aqueles provenientes do universo digital e em contextos de trabalho… No caso de um cérebro já hiperexcitado, isso pode ser sentido de forma muito mais intensa.
Além disso, um cérebro hiperexcitado pode favorecer que algumas pessoas com TEA não “se desliguem de uma atividade” para, então, iniciarem outra, o que faz com que se “desorganizem” mais facilmente e constantemente.
Por vezes, os interesses restritos e o hiperfoco – também características do TEA – podem fazer com que a pessoa gaste muito mais energia para se dedicar a tarefas que, para ela, não são interessantes, levando à fadiga.
Imprevistos e situações novas também podem influenciar negativamente, levando em conta que, no TEA, há maior rigidez cognitiva e dificuldades em flexibilizar e lidar com mudanças de rotina. Dessa forma, situações em que a pessoa não tem o controle do que vai acontecer/dos estímulos sensoriais que vai receber podem ser bastante exaustivas.
Todos esses desafios diários associados, tanto no contexto de trabalho como em contextos sociais, em longo prazo, podem levar a esse quadro de exaustão intensa chamado de Burnout.
Vale destacar que cada pessoa com TEA tem suas próprias habilidades e níveis de dificuldades em diferentes áreas da vida, seus próprios repertórios de comunicação, bem como “seu limite”.
Fatores como ambiente de trabalho, o fato de terem tido ou não acesso a estratégias de gerenciamento de estresse, entre outros pontos, interferem no quanto essa pessoa com TEA estará mais ou menos sujeita ao Burnout, assim como ocorre com qualquer outra pessoa.
Nesse sentido, é interessante que, o mais precocemente possível, o plano de tratamento do indivíduo com TEA contenha estratégias focadas também no gerenciamento do estresse e no autoconhecimento, visando fornecer ferramentas para que esse indivíduo possa lidar com seus próprios desafios e realidade da melhor maneira possível ao longo da vida.
Às pessoas da convivência, cabe estarem atentas a esse risco aumentado e aos sinais de sofrimento e exaustão que podem ocorrer no contexto do TEA, acolherem e procurarem ajuda especializada o mais precocemente possível.