O termo Autismo Regressivo refere-se a casos de crianças que apresentavam desenvolvimento motor, da linguagem, cognitivo, social e emocional aparentemente típicos ou muito próximo ao desenvolvimento típico, mas, por volta de 15 a 36 meses, começaram a perder habilidades anteriormente adquiridas.
Representa aproximadamente 1/3 dos casos do espectro do autismo e tem íntima relação com a poda neuronal da primeira infância.
Nesses casos, os pais relatam que seus filhos brincavam, interagiam, respondiam quando eram chamados pelo nome, já falavam algumas palavrinhas ou se comunicavam gestualmente, compreendiam instruções simples… E, de repente, perderam essas habilidades.
Alguns observam que seus filhos passaram a brincar de maneira não usual, a fazer ações repetitivas, a apresentar comportamentos mais irritadiços, inquietos, entre outras possibilidades.
Quando falamos em Autismo Regressivo, é importante destacar que não significa necessariamente que os déficits e excessos comportamentais emerjam de maneira abrupta nessa fase.
Entende-se que, muito provavelmente, essas crianças já apresentavam algumas características do espectro do autismo, mas esses não foram melhor observados exatamente por serem bem sutis (a ponto de serem notados somente por um especialista treinado da área).
Em casos de Autismo Regressivo, o que observamos posteriormente ao correto diagnóstico é que: na maioria dos casos, por mais que essa criança tivesse aspectos do desenvolvimento neuropsicomotor e social bem próximos ao esperado, ela já apresentava algumas sutilezas…
É o caso, por exemplo, de um bebê que não “provocava” muito seus cuidadores para conseguir atenção, para compartilhar aquilo que estava fazendo; que fazia isso não mais do que 80% das vezes. Ou ainda, que apresentava uma qualidade motora mais baixa, mas nada que configurasse um desenvolvimento neuropsicomotor anormal, entre outras características dificilmente observadas.
Por que ocorre o chamado Autismo Regressivo?
O cérebro humano faz podas neurais ao longo de toda a vida, porém, de forma muito mais intensa e importante em duas fases: por volta de 1 até 3 anos e, posteriormente, na adolescência.
Essas “limpezas” são essenciais para que sejam “descartadas” conexões que não estão sendo utilizadas, e assim possam se formar novas conexões mais fortes, com significado, ampliando o repertório de interesses que são realmente importantes para o desenvolvimento nas mais diversas áreas.
A poda neural é um processo fisiológico, geneticamente programado, que ocorre no cérebro de todo e qualquer indivíduo.
Porém, também de maneira já geneticamente programada, ocorre de forma ineficiente/irregular no cérebro autista, tendendo a gerar um excesso de conexões, o que acarreta um cérebro mais desorganizado, hiperexcitado, e que pode eliminar conexões não fortalecidas (levando a perdas de habilidades adquiridas).
Já se entende, assim, que o cérebro autista necessita formar conexões particularmente “fortes” (que precisam ter muito significado) e de um aprendizado mais repetitivo para incorporar de maneira mais efetiva as conexões que vão sendo formadas.
Dessa forma, no caso de uma criança com Autismo Regressivo, por mais que ela tenha adquirido os marcos do desenvolvimento e comportamentos esperados para a idade, tais aprendizados foram decorrentes de conexões mais fragilizadas (que “se perderam” na poda neural da infância).
Alerta!
Pais/cuidadores, educares, profissionais da saúde: sempre que notarem que habilidades anteriormente adquiridas estão sendo perdidas, que o desenvolvimento deixou de progredir, que há algo significativamente diferente no comportamento da criança, procurem rapidamente por um especialista!
Nosso cérebro é plástico e moldável!
Mesmo que não haja um diagnóstico fechado para o TEA, deve-se iniciar intervenções especializadas de acordo com as necessidades e potencialidades de cada criança!
Quanto mais precoce for a intervenção, maiores serão os ganhos, lembrando que para um aprendizado mais efetivo, o cérebro necessita de repetição, intensidade e motivação!