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Depressão e Transtorno do Espectro Autista

08/07/2020

Cerca de 11-33% das pessoas com Transtorno do Espectro Autista apresentam como comorbidade a depressão, sendo mais frequente em adolescentes e adultos no espectro mais funcional e com risco aumentado em relação à população em geral.

Alguns sinais de depressão podem ser confundidos inicialmente como comportamentos típicos do TEA, o que pode atrasar o diagnóstico. Precisamos então estar atentos a mudanças na intensidade/forma de apresentação de comportamentos prévios assim como aparente “regressão” ou novos sintomas, ex: quando passam a se isolar ainda mais socialmente; apresentar distúrbios alimentares; perdem o interesse em atividades antes prazerosas; referir sintomas como dores, cansaço sem causa física; distúrbios de sono; medos; choro excessivo ou sem motivo aparente; explosões de raiva, agressividade e descontrole emocional; queda no rendimento escolar; baixa autoestima, alterações na forma de se apresentar (vestimentas e/ou má higiene pessoal), maior passividade; pensamentos pessimistas, automutilação/autoflagelação e ideações suicidas.

Alerta: adolescentes e adultos com TEA apresentam 11-14% maior risco de tentativas de suicídio e suicídio. Na adolescência, especialmente aqueles que estão no espectro nível 1, há desejo de pertencer a um grupo, se relacionar com os pares ou amorosamente. Mesmo nos mais funcionais, há desafios e isso pode causar sofrimentos. Muitos aprendem estratégias de habilidades sociais para relacionamentos, porém, por vezes, referem ser um “peso” não serem compreendidos ou poderem se comportar como eles mesmos. Soma-se a isso o fato de serem mais vulneráveis à situações de bullying. Essas situações somadas à inabilidade em lidar com as próprias frustrações e emoções podem predispor à depressão.

Academia Americana de Pediatria recomenda triagem para depressão em >12 anos com TEA.
A avaliação deve incluir histórico familiar, estressores ambientais, potencial de ingestão tóxica e avaliação de comorbidades. O tratamento é multidisciplinar com atenção à rede de apoio e medicamentos, se indicado.

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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