Dia 10/10 é o Dia Mundial da Saúde Mental.
É fundamental estarmos atentos e com um olhar sensível à saúde mental de crianças e adolescentes, levando em conta que eles ainda podem ter dificuldades em expressar seus sentimentos com clareza, de nomear suas próprias emoções.
Alguns fatores como predisposição genética, biológica, situações de vulnerabilidade, traumáticas, estão associados a maior risco de depressão.
Desde muito cedo, ainda na infância, algumas crianças já podem apresentar sintomas de depressão.
Crianças e adolescentes podem ter dificuldades em expressar seus sentimentos com clareza, de nomear suas próprias emoções. Devemos, então, estar atentos aos sinais que podem não ser tão evidentes assim.
A adolescência, por si só, é uma fase de grandes transformações (físicas, cognitivas, sociais e comportamentais), que exige uma atenção especial. Questões relacionadas a conflitos familiares e com amigos podem ser gatilho para humor deprimido, assim como casos de bullying, o que reforça a importância de um olhar atento por parte da família, da escola e de todos ao redor.
Pandemia e saúde mental
Se pensarmos em nosso momento atual, a pandemia da COVID 19 trouxe mudanças significativas para todos. As crianças e adolescentes estão especialmente sentindo estas mudanças: estão sem rotina, sem aulas presenciais (uma pequena minoria passou a frequentar alguns dias apenas de aula presencial); com restrições sobre onde podem ou não ir para desfrutarem de momentos de lazer com os amigos; recomendações para não encontrarem ou fazerem contato físico com pessoas queridas; falta de atividades físicas; excesso de exposição a telas, o próprio medo de serem infectadas ou de verem seus familiares infectados; a percepção de que os pais estão ansiosos/preocupados, entre outros. Estes são alguns dos fatores que inevitavelmente geraram estresse neste contexto e maior susceptibilidade à ansiedade, depressão, entre outros transtornos psiquiátricos.
Sinais e sintomas de alerta para depressão na infância e adolescência
Falar em depressão não é falar sobre um único sintoma, mas, sim, sobre um conjunto de sinais. Alguns sinais de alerta para a depressão em crianças são:
– Isolamento;
– Perda de interesse e prazer em brincar;
– Perda de interesse em ir para a escola;
– Perda de interesse em explorar o ambiente;
– Distúrbios de alimentação (comer compulsivamente ou ficar inapetente);
– Sintomas físicos, como dor abdominal, cefaleia, dor no peito, cansaço, entre outros;
– Prejuízos no sono (como insônia, despertares noturnos, pesadelos, medo de ficar sozinho no quarto);
– Choro excessivo e/ou sem motivo aparente;
– Medos;
– Humor instável (com explosões de raiva e agressividade, por exemplo);
– Mudanças significativas de comportamento (por exemplo, crianças que antes eram sociáveis e calmas passam a brigar na escola ou durante atividades extracurriculares; aquelas que eram mais inquietas podem ficar mais introspectivas, caladas);
– Dificuldades para aprender;
– Baixa autoestima;
– Dificuldade de socialização.
Nos adolescentes, em especial, além dos citados, são sinais de alarme:
– Sensação de culpa;
– Falta de empatia;
– Perda de interesse em atividades antes prazerosas;
– Problemas com autoridade;
– Alterações de peso;
– Alterações na forma de se apresentar (como vestimentas e/ou má higiene pessoal);
– Mudança de grupos de amizades;
– Pensamentos pessimistas e ideações suicidas;
– Automutilação.
Automutilação/autoflagelação
A automutilação/autoflagelação está comumente relacionada com as características clínicas da depressão. Mas as motivações podem estar associadas a diferentes fatores.
A solidão proveniente do estilo de contemporâneo, que abrange tanto a ausência física dos responsáveis como uma falta de interação verdadeira entre pais e filhos, pode ser um gatilho ou potencializar a prática. Essa dificuldade em se relacionar com os pais, muitas vezes se estende também aos relacionamentos de amizades, contribuindo para um maior isolamento.
Independentemente da motivação, o ato de causar dor a si mesmo exige atenção e rápida intervenção, pois representa um ensaio para práticas mais perigosas.
Importante ressaltar que o uso de roupas que cubram braços e pernas em qualquer situação na adolescência é um sinal de alerta importante para a autoflagelação. Mas, os pais, educadores e pessoas do convívio devem estar atentos a qualquer sinal que indique um intenso sofrimento entre esses adolescentes.
Tratamento e acompanhamento
O tratamento é multidisciplinar e envolve essencialmente psicoterapia, medicações em alguns casos e, em casos de depressão, como de outros transtornos, os pais, familiares e pessoas do convívio precisam estar atentos, próximos, disponíveis para oferecer uma escuta com qualidade, sempre com muito respeito e fazendo com que sintam que têm em quem confiar e se apoiar, sem julgamentos.
A escola tem papel essencial na identificação de sinais de alarme. É claro, que no momento atual, com a diminuição do contato presencial, fica mais difícil. Em tempos de aula presencial, mudanças significativas de comportamento da criança ou do adolescente, bem como a casos evidentes de bullying, maior número de faltas, queda de rendimento escolar, podem alertar para prejuízos na saúde mental.
Tão importante quanto agir em casos de transtornos de saúde mental, é pensar em estratégias de conscientização, prevenção e redes de apoio.
Devemos como sociedade para nossas crianças e adolescentes, assim como para todos, incentivar e promover relações e ambientes empáticos, inclusivos, respeitosos, seguros e acolhedores.