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Transtornos Ansiosos e Transtorno do Espectro Autista

15/07/2020

Cerca de 40 a 66% das pessoas no espectro autista apresentam transtornos ansiosos.
Dificuldades em prever ações; interpretar pessoas e o ambiente; em iniciar, manter e responder a relacionamentos de amizade, familiares ou amorosos, assim como aumento das demandas sociais, somados a alterações de processamento sensorial e inabilidades em lidar com o novo, podem levar a situações de ansiedade crescente, sendo estes fatores relacionados com o desenvolvimento de transtornos ansiosos e fobias.

Vale lembrar que o que determina o quanto um evento é estressante e/ou ameaçador para determinada pessoa (estando ela no espectro autista ou não) é a percepção que ela tem a respeito do grau “da ameaça/do estresse” da situação/do ambiente e do tanto de controle que ela acredita ter sobre isto. Pessoas com TEA apresentam ainda maior dificuldade neste sentido, o que pode gerar respostas exacerbadas, não consistentes com determinadas situações estressantes e/ou com perfil ameaçador.

Os transtornos ansiosos dificultam ainda mais a comunicação e interação social, costumam intensificar comportamentos disruptivos e/ou autolesivos, sintomas sensoriais, distúrbios do sono e alimentares, entre outros.

Comportamentos repetitivos podem, em parte, servir para incutir certa previsibilidade e diminuir a ansiedade momentaneamente, dessa forma, pessoas com TEA e transtornos de ansiedade podem apresentar agravamento das estereotipias, comportamentos roteirizados e ritualísticos, pensamentos obsessivos, necessidade de rotina, entre outros.

A associação de TEA e transtornos de ansiedade pode ainda aumentar a predisposição para outras comorbidades, como transtorno obsessivo compulsivo, depressão, síndrome do pânico, entre outras.

Na avaliação devemos lembrar que pessoas com TEA podem não apresentar recursos de linguagem ou discernimento suficientes para descrever seus sintomas, dessa forma, uma análise funcional do comportamento, histórico familiar e estressores auxilia no diagnóstico.

O tratamento prevê intervenções multiprofissionais, rede de apoio e medicação quando necessário.

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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