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Síndrome de Down (trissomia do 21) e TEA, qual a relação?

21/03/2023

Cerca de 18 a 39% dos indivíduos com Síndrome de Down (SD) apresentam como condição associada o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Diagnosticar essa associação o mais precocemente possível é importante justamente para poder propiciar melhores oportunidades para que essa criança se desenvolva com todo seu potencial.

Na SD, existem características fenotípicas (visíveis) que já são frequentemente conhecidas pela sociedade, como:

– rostinho arredondado;
– orelhinha pequena;
– olhinhos mais oblíquos (com a pelinha da pálpebra superior cobrindo o canto inferior dos olhos);
– mãozinhas pequenas com uma prega palmar única;
– macroglossia (uma boquinha menor, então a linguinha acaba ficando um pouco mais para fora, protusa);
– uma hipotonia global (uma qualidade motora mais baixa).

Costuma haver ainda atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor que podem ser notados já na primeira idade, assim como deficiência intelectual em graus variáveis.

Mas quais são os pontos que merecem atenção e podem indicar a presença de TEA no contexto da SD?

– Perdas de habilidades já adquiridas (aquela criança que já havia adquirido algumas habilidades em relação ao seu desenvolvimento neuropsicomotor, social, e passa então a perdê-las);

– Ecolalia que persiste por bastante tempo após a aquisição da fala;

– Baixo contato visual, não responder na maior parte das vezes quando chamada (e desde que se excluindo alguma deficiência auditiva);

– Pouco ou nenhum interesse pelo outro, pelo ambiente;

– Interesse não usual pelos brinquedos, uma forma de brincar não muito funcional;

– Questões de hipersensibilidade ou hipossensibilidade (por exemplo, a criança com SD que fica com as mãozinhas nos ouvidos por muito tempo em locais com som alto ou muitas pessoas falando, ou que tem os excessos de estímulos visuais como algo perturbador);

– Seletividade alimentar (por exemplo, a criança que consegue comer somente um único tipo de textura, ou papa de uma única cor, ou só um tipo de alimento);

– Dificuldades significativas/intensas com mudança de rotina, espera prolongada e/ou frustração;

– Ações motoras ou verbais repetitivas (as estereotipias) diante de muita excitação, ociosidade, frustração.

Por que reconhecer essa associação?

O diagnóstico da SD se dá de forma muito precoce, logo ao nascimento, ou ainda, pré-natal. E sabemos que essas crianças recebem intervenções precoces multidisciplinares, tais como fisioterapia, fonoaudiologia, TO, integração sensorial.

Porém, se apresentarem um quadro de autismo associado, precisarão de intervenções especializadas dirigidas também para o TEA, para que tenham oportunidade de se desenvolverem com todo seu potencial, adquirirem novas habilidades, autonomia, independência.

Dra. Deborah Kerches

Dra. Deborah Kerches
Neuropediatria e Saúde Mental Infantojuvenil
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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